2023: As Religiões na Europa Urbana Medieval

O religioso perpassa naturalmente a vida da cidade medieval e dos seus habitantes. Na verdade, a cidade foi a base ou esteve ligada, desde os primeiros séculos, à expansão de várias religiões, como o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. As urbes acolheram as suas primeiras comunidades e os principais edifícios ligados aos diferentes cultos que assim originaram distintas topografias do sagrado, presentes através de construções singulares, tanto associadas à necessária assistência espiritual dos fiéis como à diversificação das formas de vida religiosa, todas elas mediadoras e propiciadoras do favor divino. E se o espaço se sacralizou, o mesmo aconteceu com o tempo, este marcado por um calendário de festividades e atos de culto que celebravam os momentos mais relevantes de cada tradição religiosa, mas também os que mais de perto se relacionavam com a própria cidade e os poderes nela instalados – os seus patronos celestes, os eventos mais importantes do seu passado, as festas capazes de galvanizar toda a comunidade. Impunha-se um tempo diferenciado, que pautava o quotidiano, entre os dias de trabalho e os dias dedicados a Deus, que se deviam santificar, os momentos de festa e exuberância e os tempos de penitência.

A cidade foi também o lugar de manifestação de dissidências e de presença de minorias religiosas, que os poderes religiosos e leigos procuram enquadrar e controlar, assim afirmando o poder da ortodoxia e da religião vigente. Mas o religioso constituiu-se também como o lugar de procura de afirmação e legitimação dos poderes, de conflitos em torno da posse de bens – profanos ou sagrados –, de disputas em torno de cargos e benefícios, em lógicas que procuravam integrar o acesso e domínio dos poderes sagrados em mais amplas estratégias de afirmação.

Disputas também de públicos, de influência, de espaços e de tempos, que se prolongavam numa geografia diferenciada de agentes – monges, cónegos, ordens mendicantes, clero secular, ou mesmo eremitas ou “mulheres religiosas” – capazes de assegurar a intercessão pelos vivos e pelos mortos e perpetuar a sua memória.
Propor o tema da religiosidade do mundo urbano medieval abre, por isso, uma grande multiplicidade de temas, que integram facilmente tanto o mundo cristão como o islâmico ou o judaico, no estudo e compreensão de como o religioso molda o modo como o espaço urbano se constrói e entende, os poderes que nele se cruzam e os gestos e práticas que pautam os quotidianos dos que neles habitam.

Assim, o Instituto de Estudos Medievais da NOVA-FCSH e a Câmara Municipal de Castelo de Vide organizam nos próximos dias 5-7 de outubro de 2023 as VIII Jornadas Internacionais de Idade Média, este ano subordinadas ao tema: As religiões na Europa Urbana Medieval. Tendo como espaço de observação a Europa cristã, islâmica e judaica, convidam-se os investigadores de qualquer área científica (História, Arqueologia, História da Arte, Literatura, entre outras), que se interessem pelo tema no período medieval a apresentarem propostas de sessões e/ou de comunicação no âmbito dos seguintes painéis temáticos:

1. A topografia do sagrado no espaço urbano: ritmos e estratégias de implantação, espaços, construções.
2. A materialidade da vida religiosa e o seu impacto sobre o espaço urbano: espaços de culto, dependências e cercas conventuais, estratégias de gestão patrimonial.
3. As instituições religiosas e o seu impacto na vida religiosa urbana: pregação e ensino, vida sacramental, práticas assistenciais, devoções, intercessão pelos defuntos.
4. Os rostos das religiões: as instituições religiosas e os seus membros
5. As intervenções dos poderes na vivência religiosa: estratégias e tensões.
6. A memória dos defuntos e as lógicas de afirmação social no contexto urbano: espaços, práticas e estratégias de inumação e patrocínio.
7. A diversificação das formas de vida religiosa na cidade medieval
8. A vivência dos espaços religiosos na cidade.
9. A prática confraternal e a caridade no contexto urbano medieval
10. Peregrinações e festas religiosas na cidade
11. Manifestações de arte religiosa em contextos urbanos
12. O religioso e a cidade: as representações nos textos memorialísticos medievais
13. As minorias religiosas nos diferentes contextos urbanos
14. As religiões em contexto urbano: convivência, tensões e conflitos
15. Dissidência e contestação religiosas na cidade
16. Propostas de reforma religiosa na cidade
17. As religiões em Castelo de Vide Medieval

A estrutura do encontro contará com 4 conferências plenárias realizadas por especialistas convidados pela organização e com sessões temáticas. Cada uma dessas sessões será constituída por três comunicações e terá a duração de 60 minutos. Os investigadores interessados poderão propor assim sessões e/ou comunicações individuais.

As Jornadas contam também como um programa sociocultural que inclui um jantar e visitas guiadas a locais a determinar, decorrendo uma delas após o programa científico. Durante o encontro será ainda feita a apresentação pública do livro que reúne uma seleção dos textos expostos nas VII Jornadas Internacionais de Idade Média de Castelo de Vide e na Escola de Outono, realizadas em outubro de 2022.

As línguas do encontro são o português, o espanhol, o francês e o inglês.